Autismo – Tudo o que você precisa saber
Essa condição afeta a capacidade de se comunicar e interagir. Saiba mais.
26.12.2021 | João Vitor Santos
O que é autismo?
“O autismo é um transtorno de desenvolvimento caracterizado por desafios na capacidade de comunicação, interação social e adequação de comportamento. A condição dura a vida toda e os sintomas variam consideravelmente de pessoa para pessoa.”
Os sintomas envolvem dificuldades ou diferenças nas habilidades motoras, intelectuais e sociais. Pessoas com autismo podem aprender, agir, pensar, se comunicar e interagir de maneira diferente das pessoas que não têm um transtorno do espectro autista. O autismo é conhecido como um transtorno de espectro porque existe muita variação nos tipos de sintomas e na intensidade destes.
Sintomas
Apesar de os sintomas variarem muito, eles costumam aparecer antes dos 3 anos de idade. Os pais podem notar sintomas associados com as interações sociais da criança, sua resposta a estímulos e sua habilidade de se comunicar.
Os sintomas do autismo incluem comportamentos repetitivos, interesses nichados e problemas de interação.
Enquanto pessoas com um transtorno do espectro autista podem não apresentar todos os sintomas acima, elas geralmente mostram vários dos sinais a seguir:
- Dificuldade em fazer contato visual;
- Dificuldade em acompanhar ou engajar-se em conversas;
- Estresse extremo quando rotinas são minimamente interrompidas;
- Expressões faciais que não combinam com a comunicação verbal;
- Interesse intenso em certos assuntos;
- Pouca satisfação em fazer atividades divertidas;
- Dificuldade em expressar sentimentos ou necessidades em palavras;
- Resposta lenta ou ausente a pessoas tentando chamar sua atenção;
- Muita sensibilidade sensorial a estímulos (como paladar, visão ou olfato);
- Stimming – movimentos repetitivos usados como forma de autorregulação e expressão/comunicação;
- Dificuldade em ver as coisas do ponto de vista de outras pessoas.
É importante lembrar que, sendo o autismo uma transtorno espectral, as pessoas com a condição podem ter sintomas leves, moderados ou severos. Algumas pessoas têm mais sintomas, outras, menos.
Uma pessoa com um transtorno do espectro autista pode ter vários sintomas leves, enquanto outra pode ter poucos sintomas, mas em uma intensidade que afeta profundamente sua capacidade de viver independentemente.
Pessoas com sintomas mais leves têm mais facilidade de viver uma rotina convencional, mas também têm mais chances de ter outros transtornos, como estresse excessivo, comportamento obsessivo, problemas sensoriais, ansiedade e depressão.
O autismo normalmente é diagnosticado na infância e pode acometer pessoas de qualquer sexo e etnia.
Sinais que devem ser observados
Toda criança é diferente, mas alguns sinais indicam que uma avaliação profissional é necessária. Entre eles:
- Falta de sorrisos ou expressões de alegria nos primeiros seis meses de vida;
- Não balbuciar nada até o primeiro aniversário;
- Não reagir quando o nome da criança é chamado;
- Não tentar pegar objetos até o primeiro aniversário;
- Não pronunciar nenhuma palavra até os 16 meses de idade;
- Não pronunciar frases de duas palavras até os 2 anos;
- Perda da capacidade de fala ou habilidades motoras.
Diagnóstico
Os sinais do autismo costumam ser notados primeiro pelos pais, mas também podem ser identificados por babás, professores ou médicos.
As avaliações devem ser feitas o mais cedo possível. Se você está preocupado(a) com o comportamento da sua criança, fale com seu médico assim que puder. Quanto mais cedo o diagnóstico for feito, mais cedo podem começar as intervenções.
“Não há um teste específico para determinar se a pessoa tem autismo. Os médicos podem diagnosticar o transtorno ao analisar o comportamento e fazer perguntas sobre o desenvolvimento e comportamento.”
Avaliações
Durante o acompanhamento do desenvolvimento na infância, o médico acompanha uma série de marcos no desenvolvimento e monitora diferentes tipos de atrasos no desenvolvimento. Quando a criança não atinge certo marco, ela pode receber uma avaliação mais profunda.
Durante essa avaliação mais específica, um grupo de especialistas fará a análise de um grupo de coisas, incluindo o nível de desenvolvimento esperado para a idade, habilidades motoras e linguísticas. Alguns dos testes que podem ser feitos nessa ocasião incluem:
- Questionário de sintomas do autismo;
- Monitoramento do desenvolvimento;
- Testes de audição;
- Testes de QI.
“O autismo pode ter um diagnóstico confiável antes dos 2 anos de idade. Os sintomas começam a aparecer nos primeiros 3 anos de vida da criança.”
Diagnóstico na vida adulta
Embora o diagnóstico costume acontecer na infância, ele também pode ser feito na adolescência ou mesmo na vida adulta. O diagnóstico em adultos pode ser um pouco mais difícil já que os sintomas do autismo podem ser confundidos com os de outros transtornos mentais, como ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ou transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
Enquanto os pesquisadores ainda tentam descobrir quais os melhores tratamentos para adultos com autismo, receber um diagnóstico pode ser útil para entender dificuldades passadas e atuais. Também ajuda você a reconhecer suas forças e a identificar as áreas em que pode precisar de ajuda.
O diagnóstico na infância é o cenário ideal para alguém com um transtorno do espectro autista. Mas nunca é tarde demais para receber um diagnóstico e tratamento contra a condição. Se você está sentindo sintomas que se parecem com os do autismo, fale com um médico para saber como proceder.
Causas
As causas exatas desse conjunto de transtornos é desconhecida. Os pesquisadores supõem que a genética desempenha um fator nesse caso. Evidências dessa conexão incluem estudos que indicam que crianças com um irmão autista têm uma chance maior de terem a condição.
Entretanto, pesquisas apontam que só 20% dos casos dessa família de transtornos podem ser relacionados a causas genéticas. Mais estudos são necessários para entender quais fatores genéticos específicos contribuem para o aparecimento do transtorno.
A genética tampouco é a única a desempenhar um papel. Estudos mostram que o parto prematuro e a paternidade em idade avançada podem aumentar as chances da criança ter autismo.
Certas drogas, se consumidas durante a gravidez, também foram ligadas a um risco maior de autismo.
Tipos de autismo
Quando uma pessoa é diagnosticada com autismo, ela também tem seu nível de funcionalidade avaliado. Os níveis de um transtorno do espectro autista são três:
Nível 1 - Alto funcionamento
Nível 2 - Moderadamente severo
Nível 3 - Severo
Os níveis são usados para identificar o quão severamente os comportamentos e as habilidades sociais são afetadas.
Nível 1
Esse nível é considerado uma forma leve de autismo. Pessoas nesse grupo podem ter dificuldades com os relacionamentos sociais e comportamentos restritivos. Elas geralmente precisam de apoio mínimo em suas rotinas diárias.
Nível 2
Aqueles com nível 2 precisam de mais apoio. Suas dificuldades sociais são evidentes – eles podem ter problemas de comunicação e podem precisar de ajuda para controlar comportamentos problemáticos.
Nível 3
Pessoas com autismo de nível 3 têm sintomas que interferem profundamente com sua habilidade de viver e funcionar de maneira independente. Nesse nível a comunicação verbal pode ser inexistente; dificuldade em lidar com mudanças, comportamentos repetitivos ou restritivos e sensibilidade a estímulos sensoriais também podem aparecer.
Classificações anteriores
Com a publicação da 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), em 2013, houveram significativas mudanças em como o autismo é diagnosticado e classificado. Até a publicação do DSM-5, os especialistas consideravam três tipos de autismo:
- Síndrome de Asperger - Descrita como uma forma leve de autismo, marcada pelo funcionamento intelectual normal mas com dificuldades em interações sociais;
- Transtorno de Desenvolvimento Pervasivo (TDP) – Uma forma moderada de autismo, mais intensa que o Asperger;
- Transtorno autista – Forma mais severa de autismo com deficiências ainda mais profundas que a do TDP.
Hoje essas condições são simplesmente conhecidas como transtornos do espectro autista.
Apesar dos tipos acima não serem mais diagnósticos oficiais, algumas pessoas ainda os consideram úteis como forma de descrever como os sintomas afetam a rotina e o quão severos são. Por exemplo, algumas pessoas acham o Asperger útil para a autoidentificação ou para se conectar com outros que possuem o transtorno.
Tratamento
Apesar do autismo ser crônico, existem tratamentos que ajudam com muitos dos sintomas e melhoram a capacidade da pessoa de atuar em diferentes aspectos da vida.
Não há um tratamento que pode ser apontado como o melhor de todos. Pessoas com autismo podem ter uma vasta variedade de sintomas, de forma que as necessidades de um paciente em particular são quase únicas. Dito isto, as formas mais comuns de tratamento incluem a terapia e o uso de medicamentos.
Medicações
Ainda não existe um remédio aprovado para o tratamento do autismo, especificamente. Seu médico, porém, pode receitar certos medicamentos para aliviar alguns sintomas.
Medicamentos como os Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS), antipsicóticos, estimulantes, ansiolíticos e anticonvulsivos podem ajudar com sintomas como:
- Agressividade;
- Ansiedade;
- Problemas de atenção;
- Depressão;
- Hiperatividade;
- Falas inapropriadas;
- Irritabilidade;
- Afastamento social.
Terapia comportamental
O treinamento terapêutico contra o autismo geralmente envolve o comportamento, psicologia e as habilidades em geral.
Uma abordagem comumente usada é a análise comportamental aplicada - uma forma de terapia que utiliza o ensino para reforçar comportamentos e habilidades desejáveis.
Outro tipo de terapia muito aplicado nesses casos é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). A vantagem da TCC é a facilidade de se encontrar psicólogos que utilizam essa abordagem.
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Dicas de convivência
Além do tratamento profissional, existem uma série de estratégias que podem ajudar você a lidar com os sintomas do autismo. Vamos ver algumas:
Seja compreensivo(a)
Em vez de focar nas diferenças, procure ver essas características únicas como parte da identidade da pessoa. Pratique a aceitação e o amor incondicional em vez de tentar “consertar” as coisas que tornam o autista diferente dos outros.
Crie um ambiente confortável e relaxante
Atente-se a coisas que podem ser fontes de estresse, inclusive estímulos sensoriais como barulhos altos ou luzes fortes.
Siga uma agenda
Pessoas com autismo se saem melhor com rotinas bem estruturadas. Mantenha as coisas consistentes todos os dias, inclusive refeições, escola, compromissos, terapia e hora de ir para a cama. Quando houverem mudanças e interrupções, garanta que a pessoa seja avisada com antecedência e tenha tempo para se preparar.
Entre em um grupo de apoio
Procure grupos de apoio na sua região e principalmente online. Você poderá dividir experiências, receber apoio, aprender sobre tratamentos e descobrir recursos e programas relacionados aos transtornos do espectro autista.
Aprenda a identificar gatilhos
Se existem coisas que tendem a provocar comportamentos disruptivos ou desafiadores, procure maneiras de evitar ou atenuar essas situações.
Atente-se à comunicação não verbal
Como as pessoas com autismo têm dificuldade na comunicação e nos comportamentos sociais; elas podem não ser capazes de falar quando algo está errado. Repare em coisas como a expressão facial, linguagem corporal e outros sinais não verbais.
Use o reforço positivo
A ideia aqui é oferecer uma recompensa quando a pessoa está "sendo boa”. Quando você percebe ela usando uma nova habilidade ou fazendo algo bom, elogie-a. O reconhecimento verbal ajuda muito, mas você também pode usar outros tipos de recompensas.