Causas e fatores de risco do Estresse Pós-Traumático
Conheça os principais fatores de risco para o transtorno de estresse pós-traumático e o que dizem as pesquisas mais recentes.
19.11.2021 | João Vitor Santos
As pessoas geralmente usam a palavra “traumático” quando estão descrevendo eventos muito estressantes de maneira geral. Profissionais da saúde mental, entretanto, definem eventos traumáticos de maneiras bem específicas.
Os protocolos usados por esses profissionais continuam a evoluir conforme o entendimento sobre o tema aumenta. Esse entendimento é especialmente importante quando eles estão tentando descobrir se uma pessoa tem transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) ou não.
A definição de evento traumático conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
Comparada com as edições anteriores do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), a 5ª edição detalha com mais clareza os elementos de um evento traumático – particularmente no tocante ao diagnóstico de TEPT.
O DSM-5 define gatilhos de estresse pós-traumático como exposição a ou ameaça de:
- Morte;
- Lesão séria;
- Violência sexual.
Além disso, a exposição deve resultar de pelo menos uma das situações a seguir, nas quais o indivíduo:
- Vivencia o evento traumático diretamente;
- Testemunha o evento traumático em pessoa;
- Descobre que o evento aconteceu com uma pessoa próxima, seja amigo ou familiar;
- Vivencia, em primeira mão, exposição extrema e repetida aos detalhes do evento traumático (sem ser pela televisão, internet, fotos ou filmes, por exemplo).
Sinais de que alguém passou por um evento traumático
Confirmar que uma pessoa está traumatizada não é nada fácil. Mesmo que você seja próximo(a) dela, você pode não perceber os sintomas comuns de trauma. A pessoa pode se dissociar ou desconectar – por exemplo, não respondendo suas perguntas ou comentários, como se ela nem estivesse lá.
Entretanto, outros sinais de que a pessoa está traumatizada podem ser mais fáceis de você observar:
- Ansiedade, que pode se manifestar como nervosismo, irritabilidade, concentração ruim, mudanças de humor, terrores noturnos ou ataques de pânico;
- Surtos emocionais ou manifestações de raiva ou tristeza;
- Sintomas físicos, como coração acelerado, fadiga, palidez ou letargia.
Fatores de risco
Exposição a um trauma é o fator inicial do estresse pós-traumático. Entretanto, pode ser que outros elementos devam ser considerados.
Nem todo mundo que sofre um trauma desenvolve estresse pós-traumático.
Embora seja quase impossível determinar com certeza quem desenvolverá TEPT, pode-se considerar que os seguintes fatores de risco contribuam para o surgimento dessa condição.
Fatores genéticos
Pesquisadores continuam a explorar o papel da genética no desenvolvimento do transtorno de estresse pós-traumático. Existem estudos mostrando a influência da genética no desenvolvimento de condições como esquizofrenia, transtorno bipolar e transtorno depressivo maior. A influência do código genético no desenvolvimento do TEPT também tem sido alvo de pesquisas.
Mulheres são consideradas mais propensas ao transtorno de estresse pós-traumático do que os homens. Essa probabilidade chega a ser duas vezes maior.
Um estudo descobriu que, para mulheres, 29% do risco de desenvolvimento de transtorno de estresse pós-traumático é influenciado por fatores genéticos. Esse mesmo índice se mostrou muito menor nos homens.
Pesquisas atuais
Entre os marcadores genéticos que estão sendo estudados pela sua possível relação com o desenvolvimento do estresse pós-traumático estão o gene transportador de serotonina (5-HTTLPR) e os genes associados com o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal.
Fatores sociais
O apoio social (ou a falta dele) é um fator crítico para o desenvolvimento do estresse pós-traumático. Pessoas com opções limitadas de apoio social possuem uma chance maior de desenvolver o transtorno.
Após o evento traumático, a necessidade por fontes confiáveis de apoio é essencial para ajudar a pessoa a processar sua experiência de maneira saudável e recuperar a esperança através de conexões emocionais seguras.
Aqueles com estratégias de enfrentamento evasivas têm uma chance menor de pedir apoio ou de procurar conexões saudáveis após um trauma. Pessoas que se isolam frente a desafios em geral podem ter um risco maior de desenvolver TEPT.
Mesmo que você tenha apoio à disposição, talvez não seja o suficiente para impedir o transtorno de estresse pós-traumático.
Fatores neurológicos e biológicos
QI e neuroticismo são dois fatores de risco que possivelmente influenciam no desenvolvimento do TEPT. Pessoas com valores de QI mais baixos tendem a ser mais suscetíveis ao TEPT. Além disso, pessoas com neuroticismo mais acentuado também têm um risco maior de desenvolver a condição.
Neuroticismo é um traço de personalidade no qual a pessoa tem uma chance maior de apresentar ansiedade, culpa, preocupação, medo, raiva, frustração e tristeza.
Como mencionado anteriormente, existe um número cada vez maior de pesquisas dedicadas a explorar o papel da genética no desenvolvimento do TEPT. Considerando que o transtorno não aparece em todo mundo que passa por um trauma, essas descobertas ajudam a determinar melhor quem é mais suscetível, de forma que intervenções e tratamentos sejam planejados de acordo.
O transtorno de estresse pós-traumático, junto com outras condições como a depressão, é associado com um volume cerebral menor, particularmente nas áreas pré-frontais. Pesquisas mostram que o volume reduzido nessas regiões está associado com mais relatos de ansiedade dos participantes
Outros fatores
Como dito acima, outro fator de risco para o desenvolvimento do TEPT é ter sofrido outro trauma no passado. Sabe-se que o impacto emocional dos traumas tem efeito cumulativo. Isso significa que uma pessoa que não desenvolveu estresse pós-traumático após um trauma pode apresentar o transtorno depois de um novo evento traumático.
Um histórico de problemas com a saúde mental antes do evento traumático também pode ser um fator de risco para o desenvolvimento do TEPT. Existem evidências de que transtornos de humor preexistentes, transtornos de ansiedade e transtorno de conduta podem ser fatores influenciadores.
Estressores também são um fator de risco. Quando a pessoa está lidando com estressores como divórcio, problemas financeiros, estresse causado pelo trabalho ou para crianças que estão passando por desafios emocionais na escola ou em casa, a probabilidade de surgimento do TEPT aumenta.
A natureza do evento causador também um fator em potencial. Sabe-se que quanto mais extremo o evento, como testemunhar uma morte ou violência extrema ou se ferir durante o vento, maior o risco de se desenvolver TEPT.
Quando a pessoa passar por dor física como resultado do trauma, como em um caso de abuso sexual, o risco de TEPT é maior, uma vez que a dor é um lembrete constante do evento.
Ajudando alguém a lidar com o estresse pós-traumático
É difícil tentar ajudar uma pessoa querida que não quer falar sobre o que aconteceu, mas você estará em boa posição para ajudar se você:
- Entender a definição de evento traumático;
- Puder identificar alguns dos sinais;
- Estiver disposto(a) a continuar oferecendo ajuda apesar das recusas iniciais.
Lembre-se, seu apoio pode fazer muita diferença no quão rápido a pessoa traumatizada se recupera.