O que é depressão psicótica?
Entenda como funciona e como lidar com esse tipo de depressão.
22.12.2021 | João Vitor Santos
Algumas pessoas com depressão profunda também apresentam psicose além dos sintomas comuns de depressão – humor deprimido, mudança no apetite e perda de interesse nas atividades apreciadas anteriormente são exemplos.
A psicose é uma condição na qual a pessoa começa a ver e/ou ouvir coisas que não estão lá (alucinações) ou tem ideias falsas sobre a realidade (delírios). Também pode haver desorganização nos pensamentos.
Quando a psicose acontece junto com a depressão, o diagnóstico é chamado de depressão psicótica.
Prevalência e fatores de risco
Estima-se que de 3% a 11% das pessoas irão sofrer de depressão profunda em algum momento da vida. Entre as pessoas que apresentam esse tipo de depressão, de 14% a 18% também desenvolverão sintomas psicóticos. Esse tipo de depressão também parece ficar mais comum conforme as pessoas envelhecem.
É impossível, entretanto, prever exatamente quem tem predisposição à depressão psicótica, uma vez que não se conhece o suficiente sobre as causas do transtorno.
As definições e ferramentas de medição para a depressão evoluem com o tempo, o que significa que as estatísticas estão sempre mudando. Pelo que se sabe hoje, alguns dos fatores que podem aumentar a predisposição à depressão incluem:
Ser mulher – Mulheres têm o dobro de chances de desenvolver depressão em relação aos homens. Cerca de dois terços das pessoas diagnosticadas com o transtorno são mulheres.
Ter um infância difícil – Pessoas que passaram por adversidades na infância são mais propensas à depressão.
Ter um dos pais ou irmãos com depressão – A propensão de sofrer de depressão, em particular de depressão profunda, tende a ser hereditária. Se você tem um parente próximo com depressão, as chances de você desenvolvê-la são maiores também.
Sintomas
A pessoa com depressão psicótica experimenta os sintomas mais característicos da depressão, como:
- Humor deprimido;
- Perda de interesse nas atividades apreciadas anteriormente;
- Fadiga ou falta de energia;
- Sentimentos de inutilidade ou culpa;
- Incapacidade de se concentrar;
- Mudanças significativas de apetite e peso;
- Dificuldades de sono;
- Pensamentos de morte ou suicídio.
Além dos sintomas acima, pessoas com depressão psicótica também sofrem com delírios e/ou alucinações.
Pessoas com outros transtornos mentais, como esquizofrenia, também podem sofrer de psicose. Nos casos de depressão psicótica, as alucinações e delírios têm um tom depressivo e tendem a focar em temas de desesperança e fracasso.
A psicose associada com esquizofrenia possui temas impossíveis ou bizarros que são desconectados do humor e do estado afetivo da pessoa.
Causas
Uma teoria diz que uma certa combinação de genes deve ser herdada para que a pessoa desenvolva depressão psicótica. Certos genes podem ser responsáveis pelos sintomas de depressão enquanto outros são responsáveis pelos de psicose, o que significa que uma pessoa pode ser geneticamente predisposta à depressão, à psicose ou a ambas.
A teoria de que uma combinação de genes afeta a depressão e seus sintomas explicaria porque nem todas as pessoas com depressão desenvolvem psicose. Outra teoria é de que altos níveis do hormônio do estresse, o cortisol, poderiam estar relacionados. Altos níveis de cortisol costumam ser observados em pessoas com depressão.
Diagnóstico
No momento, a depressão psicótica não é considerada uma doença separada da depressão, sendo classificada como um subtipo do Transtorno Depressivo Maior (TDM).
Para receber o diagnóstico de depressão psicótica, oficialmente conhecida como “transtorno depressivo maior com sintomas psicóticos”, a pessoa deve atender os critérios estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) para transtorno depressivo maior. Além disso, a pessoa precisa exibir sintomas de psicose, como alucinações e delírios.
O diagnóstico de depressão psicótica geralmente envolve a construção de um histórico médico. Seu médico vai perguntar sobre seus sintomas e histórico familiar. A avaliação de um profissional da saúde pode incluir testes para descartar outras possíveis causas para os sintomas, como uso de drogas, outra condição médica, esquizofrenia ou transtorno bipolar.
Classificação da depressão psicótica
Apesar de o DSM-5 listar a depressão psicótica como um subtipo do transtorno depressivo maior, ele não indica se esse tipo de depressão é mais severo que os outros tipos. O Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID 11), por outro lado, classifica a depressão psicótica como a forma mais severa de transtorno depressivo.
Para receber o diagnóstico de transtorno depressivo com sintomas psicóticos, você deve apresentar pelo menos cinco sintomas depressivos por pelo menos duas semanas. Tais sintomas incluem humor deprimido, perda de prazer ou interesse, irritabilidade, mudanças no apetite e mudança no sono.
Um diagnóstico de depressão psicótica também inclui apresentar sintomas de psicose, como paranoia, alucinações e delírios, além dos sintomas de depressão.
Tratamento
Embora não exista um plano de tratamento especificamente desenhado para a depressão psicótica, a terapia, os antidepressivos e os antipsicóticos são os métodos de tratamento mais comuns nesses casos.
Medicação
Escolhas comuns de antidepressivos incluem os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) ou os inibidores seletivos da recaptação da serotonina e da noradrenalina (ISRSN). Evidências sugerem que a combinação de terapia com um desses antidepressivos junto com um antipsicótico é mais efetiva que o uso desses medicamentos isoladamente.
Contudo, existem riscos associados ao uso simultâneo de ambos medicamentos. Um estudo de 2020 descobriu que adicionar um antipsicótico atípico a um antidepressivo está associado a um risco maior de morte.
Dito isso, mais pesquisas são necessárias para entender melhor esse risco potencial. Além disso, cada situação é diferente. Para alguns, o benefício de tomar um antipsicótico pode compensar o risco potencial. Antes de tomar qualquer decisão, porém, converse com seu médico para discutir suas opções e descobrirem juntos o que funciona melhor para você.
Terapia eletroconvulsiva
A terapia eletroconvulsiva (ECT, na sigla em inglês), é um tratamento seguro e altamente efetivo para pessoas com depressão psicótica que não respondem à medicação tradicional. Por oferecer alívio tão rapidamente, ela também é indicada para pessoas que lidam com pensamentos suicidas.
A ECT pode ser o tratamento mais rápido, mas um cuidado contínuo – que geralmente inclui antidepressivos – é necessário para prevenir o retorno dos sintomas.
Convivendo
A psicose pode tornar o funcionamento bastante difícil, já que a pessoa vê a realidade de maneira distorcida. Como os sintomas psicóticos aumentam as chances de automutilação intencional ou acidental, é importante receber o tratamento adequado.
O prognóstico depende do quão cedo o paciente recebe tratamento contra a depressão psicótica. Quanto mais o início do tratamento demorar, mais provável é que o indivíduo vá precisar de serviços médicos de emergência.
Pesquisas
Um estudo apontou que 86% das pessoas com apenas um episódio de depressão psicótica se recuperam o suficiente para não atenderem mais aos critérios do diagnóstico; entretanto, apenas 35% recuperam a mesma funcionalidade de antes. Um grande número de indivíduos teve seu diagnóstico alterado para transtorno bipolar ou transtorno esquizofrênico.
Pesquisadores sugerem que a psicose depressiva é pouco estudada, pouco diagnosticada e tratada inadequadamente. A combinação de medicamentos com ECT tem se mostrado efetiva, mas mais estudos são necessários para confirmar por quanto tempo a medicação antipsicótica precisa ser consumida.
A melhor maneira de lidar é falar com seu médico se você estiver com sintomas de depressão ou se suspeita que está com sintomas de psicose. Após você receber tratamento e os sintomas estiverem estabilizados, continue a seguir os conselhos do seu médico e a tomar os medicamentos para evitar recaídas futuras.