Sintomas negativos da esquizofrenia – Tipos, diagnóstico e tratamento
Saiba como identificar e tratar essa categoria de sintomas da esquizofrenia.
24.03.2022 | João Vitor Santos
Pessoas com esquizofrenia podem experimentar sintomas positivos e negativos. Isso não significa que existam sintomas "bons" ou "ruins". Os sintomas positivos são comportamentos que aparecem em excesso em pessoas com esquizofrenia e normalmente não são encontrados em indivíduos saudáveis.
Sintomas positivos - que incluem delírios, alucinações, pensamentos desorganizados e fala desorganizada - podem fazer com que você ou alguém que você ama perca o contato com a realidade.
A esquizofrenia negativa refere-se a comportamentos ou emoções que são deficientes ou ausentes em pessoas com esquizofrenia. Como os sintomas negativos indicam déficits no funcionamento, eles também são chamados de sintomas de déficit.
Sintomas negativos - incluindo falta de emoção, diminuição da alegria ou motivação, atraso na fala e dificuldade em iniciar e manter atividades - podem ser assustadores e extremamente debilitantes. Se você ou alguém que você ama está lutando com sintomas negativos, pode precisar de ajuda para concluir as tarefas diárias.
Causas dos sintomas negativos
A causa dos sintomas negativos não é clara. Embora alguns estudos digam que esses déficits ocorrem em famílias, não há associação genética conhecida para sintomas negativos ou esquizofrenia deficitária.
Curiosamente, enquanto o nascimento no inverno aumenta o risco de esquizofrenia, as pessoas com esquizofrenia nascidas no verão parecem estar em maior risco de sintomas negativos.
Tipos de sintomas negativos
O primeiro passo para gerenciar os sintomas negativos da esquizofrenia é entender os diferentes tipos, que normalmente têm uma das quatro características definidoras:
- Déficits afetivos - falta de expressão facial, contato visual, gestos e variações no padrão de voz;
- Déficits de avolição - grave falta de motivação ou iniciativa para realizar tarefas necessárias;
- Déficits comunicativos – falar pouco ou conversas sem conteúdo;
- Déficits relacionais - falta de interesse em atividades sociais e relacionamentos.
Como os sintomas negativos podem incluir déficits nas habilidades cognitivas, emocionais e sociais, pode haver um grande número de sintomas potenciais. A versão mais recente do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) descreve os sintomas negativos como “expressão emocional e avolição restritas” e inclui os cinco tipos a seguir.
Embotamento afetivo
Isso limita a capacidade da pessoa de transmitir suas emoções, causando expressões faciais e emocionais diminuídas. Um afeto embotado é menos severo do que um afeto plano, no qual uma pessoa tem uma gama extremamente limitada de emoções; por exemplo, nem mesmo ser capaz de abrir um sorriso ou celebrar durante um momento de grande alegria.
As pessoas podem confundir o afeto embotado com alguém sendo "frio" ou "insensível".
Alogia
Definida no DSM-5 como uma "diminuição na produção verbal ou expressividade verbal", a alogia (também conhecida como "pobreza de fala") pode tornar quase impossível comunicar seus pensamentos e manter uma conversa.
As pessoas com alogia podem responder a um monossilábico "sim" ou "não" ao responder a perguntas e/ou sofrer atrasos na emissão das palavras. Deve-se notar que esses atrasos na fala não são os mesmos causados por sintomas positivos como alucinações auditivas ou visuais e pensamento desorganizado.
Associabilidade
A associalidade causa falta de envolvimento em relacionamentos sociais ou aumento do desejo de passar tempo sozinho. Isso é diferente de uma pessoa que se isola depois de ouvir vozes ou experimentar sentimentos de paranoia.
Avolição
A avolição é uma forma de paralisia emocional ou comportamental que pode diminuir seu desejo de participar de atividades sociais e atingir metas, bem como sua capacidade de concluir tarefas diárias. Muitas pessoas confundem esse sintoma negativo com "preguiça".
Mas, no caso da esquizofrenia, a avolição causa uma falta generalizada de entusiasmo, juntamente com uma notável falta de preocupação com assuntos menores e maiores, como o que comer, como as contas serão pagas e o que acontecerá quando a família não estiver mais por perto. Isso pode até mesmo ser transferido para atividades básicas, como higiene pessoal.
Anedonia
Em grego, an significa "sem" e hedone significa "prazer", então, em termos simples, anedonia é um estado em que você não consegue sentir prazer. Para pessoas com esquizofrenia, isso pode significar falta de entusiasmo por atividades, hobbies, paixões e prazeres antes desfrutados.
Diagnóstico dos sintomas negativos da esquizofrenia
Os sintomas negativos nem sempre são fáceis de reconhecer e podem ser confundidos com depressão e outras doenças mentais. Além disso, eles podem ir e vir durante o curso da esquizofrenia.
Muitas vezes, as pessoas com esquizofrenia podem ter um sintoma negativo junto dos sintomas positivos mais comumente observados.
Às vezes, alguns dos medicamentos prescritos para o tratamento da esquizofrenia, como os antipsicóticos de primeira geração ou antipsicóticos típicos, também conhecidos como neurolépticos, apresentam efeitos adversos como diminuição do interesse ou diminuição da resposta emocional. Como esses sintomas são causados pelos medicamentos, eles são chamados de sintomas negativos secundários.
O que é esquizofrenia deficitária?
A esquizofrenia deficitária, que não é sinônimo de sintomas de déficit ou sintomas negativos, é diagnosticada quando os pacientes apresentam:
- Pelo menos dois dos seis sintomas negativos apresentados acima;
- Os sintomas são persistentes, ou presentes por pelo menos um ano, e o paciente os experimenta mesmo durante períodos de estabilidade clínica;
- Os sintomas são primários, ou seja, não ocorrem devido a outras causas, como medicamentos ou outras condições.
Pessoas com esquizofrenia deficitária têm uma pior resposta ao tratamento, funcionamento social e ocupacional e qualidade de vida geral do que pessoas com esquizofrenia não deficitária.
Tratamento contra os sintomas negativos da esquizofrenia
Tratar sintomas negativos é complicado devido à própria natureza dos sintomas negativos: alguém experimentando falta de motivação, entusiasmo ou desejo de ser social, por exemplo, pode hesitar em procurar e manter o tratamento.
Além disso, os medicamentos usados para tratar os sintomas positivos da esquizofrenia podem aumentar os sintomas negativos secundários e não funcionam nos sintomas negativos primários e persistentes.
É por isso que o tratamento eficaz inclui, idealmente, uma combinação de medicamentos, terapia e apoio.
Antipsicóticos atípicos
Os medicamentos de segunda geração conhecidos como antipsicóticos atípicos são o tratamento de primeira linha para a esquizofrenia.
Existem muitos antipsicóticos atípicos diferentes usados para tratar a esquizofrenia, incluindo:
- Aripiprazol;
- Clozapina;
- Ziprasidona;
- Paliperidona;
- Olanzapina.
Antipsicóticos típicos
Medicamentos antipsicóticos, que podem ser usados para o tratamento de sintomas positivos da esquizofrenia, como alucinações e delírios, não são eficazes no tratamento de sintomas negativos, como falta de emoção, motivação ou interesse nas atividades sociais.
Embora eficazes contra sintomas positivos, esses antipsicóticos mais antigos de primeira geração têm vários efeitos adversos neurológicos, como parkinsonismo (quando os medicamentos causam sintomas semelhantes aos da doença de Parkinson), que podem aumentar os sintomas negativos secundários.
Esses medicamentos, também conhecidos como neurolépticos, podem ajudar a tratar sintomas negativos que são secundários a sintomas positivos.
Por exemplo, as pessoas podem ficar socialmente isoladas devido a crenças ou vozes paranoicas que as ordenam a não sair de casa. Nesses casos, antipsicóticos que diminuem a paranoia e as alucinações auditivas (ouvir vozes ou sons) melhorarão a afiliação social.
Antidepressivos
Embora não seja de forma alguma uma cura, a combinação de antipsicóticos com antidepressivos mostrou-se mais eficaz do que apenas antipsicóticos. Os antidepressivos funcionam aumentando a disponibilidade de um ou vários dos seguintes neurotransmissores:
- Dopamina (tomada de decisão, motivação, sinalização de prazer e recompensa);
- Noradrenalina (estado de alerta e função motora);
- Serotonina (humor, apetite, sono, memória, comportamento social, desejo sexual).
Intervenções psicossociais
As intervenções psicossociais, incluindo terapia comportamental, terapia de apoio e psicoeducação familiar, visam mudar os comportamentos de uma pessoa para uma interação mais saudável com a sociedade. Essas terapias podem fornecer às pessoas com sistemas negativos persistentes, bem como às suas famílias, ferramentas para identificar e lidar com déficits no funcionamento cognitivo e emocional e nas habilidades sociais.
Psicoterapia de apoio
A terapia de suporte oferece uma oportunidade de companheirismo, validação sem julgamento, aconselhamento de bom senso e garantia de um terapeuta treinado.
Muitas vezes, seu terapeuta intervirá em seu nome para facilitar a comunicação com membros da família e autoridades, como escolas e agências sociais.
Terapia comportamental
A terapia comportamental, incluindo treinamento de habilidades sociais e terapia cognitivo-comportamental (TCC), pode ensinar você a reconhecer e se envolver em comportamentos e atividades que melhorarão a qualidade de vida e a vida cotidiana.
Por exemplo, durante o treinamento de habilidades sociais, você aprenderá a expressar sentimentos e necessidades, fazer perguntas e controlar a voz, o corpo e as expressões faciais. A TCC pode ensinar você ou alguém que você ama a identificar e mudar os déficits que influenciam negativamente o comportamento e as emoções.
Psicoeducação familiar
O apoio familiar desempenha um papel fundamental no tratamento dos sintomas negativos. A psicoeducação para pacientes e famílias é útil para diminuir o estigma e melhorar as oportunidades de envolvimento social contínuo. Também pode oferecer às famílias estratégias eficazes para se comunicar e lidar com um ente querido com esquizofrenia.
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