Esquizofrenia – Tudo o que você precisa saber
Conheça as causas, sintomas, tratamentos e meios de prevenção contra esse sério transtorno psiquiátrico
16.11.2021 | João Vitor Santos
Esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico crônico. Pessoas com essa doença experimentam distorções na realidade, como alucinações e delírios, por exemplo.
Embora estimativas precisas sejam difíceis de conseguir, acredita-se que afeta em torno de 1% da população.
Impressões erradas sobre a esquizofrenia são comuns. Por exemplo, algumas pessoas acreditam que ela cria uma segunda personalidade. Na verdade, esquizofrenia e dupla personalidade – cujo nome correto é transtorno dissociativo de identidade – são dois transtornos diferentes.
A esquizofrenia pode acometer homens e mulheres de todas as idades. Os homens costumam desenvolver os sintomas no final da adolescência e no começo da casa dos 20. Já nas mulheres, o período mais comum é no final dos 20 e início dos 30 anos.
Sintomas da esquizofrenia
Os sintomas da esquizofrenia podem incluir:
Sintomas iniciais
Os sintomas desse transtorno costumam surgir no final da adolescência e no início da vida adulta. Nessa altura da vida, os primeiros sinais podem ser confundidos com o típico comportamento adolescente.
Os sintomas iniciais podem incluir:
- Isolamento da família e amigos;
- Mudar de amigos ou de grupos sociais;
- Mudança na capacidade de foco e concentração;
- Problemas para dormir;
- Irritabilidade e agitação;
- Dificuldades com as tarefas da escola ou performance acadêmica ruim.
Sintomas positivos
Sintomas positivos de esquizofrenia são comportamentos que não são esperados em indivíduos saudáveis. Alguns exemplos são:
Alucinações. Alucinações são experiências que parecem ser reais, mas são criadas pela sua mente. Isso pode significar ver coisas, ouvir vozes ou sentir cheiros que ninguém mais ao seu redor percebe.
Delírios. Delírio se refere a uma situação onde você acredita em algo apesar de inegáveis evidências do contrário.
Transtornos de pensamento. Incluem maneiras incomuns de pensar ou processar informação.
Transtornos de movimento. Se referem a posturas estranhas e movimentação agitada do corpo.
Sintomas negativos
Os sintomas negativos são aqueles que suprimem emoções, comportamentos e habilidades que são esperadas em uma pessoa saudável. Esses sintomas podem incluir:
- Pensamento ou fala desorganizados. A pessoa muda de assunto com muita velocidade ou inventa palavras e frases;
- Dificuldade em controlar impulsos;
- Resposta emocional estranha a eventos;
- Falta de emoções ou expressões;
- Perda de interesse ou animação com a vida;
- Isolamento social;
- Dificuldade em sentir prazer;
- Dificuldade em conceber ou seguir planos;
- Dificuldade em realizar atividades comuns do dia a dia.
Sintomas cognitivos
Os sintomas cognitivos da esquizofrenia são, por vezes, sutis e podem ser difíceis de detectar. Algumas das áreas que podem ser afetadas são memória e pensamento. Por exemplo:
- Pensamento desorganizado, levando à dificuldade em focar ou prestar atenção;
- Capacidade reduzida de processar informação para tomar decisões;
- Dificuldade em adquirir novas informações;
- Falta de percepção sobre os próprios sintomas.
Causas da esquizofrenia
A causa exata da esquizofrenia é desconhecida. Pesquisadores médicos acreditam que vários fatores podem contribuir, inclusive:
- Biologia;
- Genética;
- Ambiente.
Estudos recentes apontam que exames por imagem em pessoas com esquizofrenia identificaram anormalidades em certas estruturas cerebrais. Acredita-se que anormalidades químicas no cérebro podem ser responsáveis por muitos dos sintomas desse transtorno.
Pesquisadores também acreditam que níveis baixos de certas substâncias cerebrais que afetam emoções e comportamento podem contribuir para a manifestação dos sintomas.
A genética também desempenha um papel. Pessoas com um histórico familiar de esquizofrenia têm uma chance maior de desenvolver a doença.
Outros fatores de risco da esquizofrenia incluem:
- Exposição a toxinas ou vírus na infância;
- Sofrer de doença inflamatória ou autoimune.;
- Uso de drogas que afetam a mente;
- Altos níveis de estresse.
Tipos de esquizofrenia
A esquizofrenia foi, outrora, dividida em subtipos. Desde 2013, entretanto, os subtipos foram eliminados e a esquizofrenia é um diagnóstico único.
A divisão em tipos ajudava os profissionais da saúde mental a planejar o tratamento. Essas categorias incluíam:
Paranoia. Em 2013 os médicos decidiram que a paranoia é um sintoma positivo da esquizofrenia, não um subtipo independente.
Hebefrenia. Essa categoria era aplicada a pessoas que não sofriam alucinações ou delírios, mas tinham discurso ou pensamento desorganizados.
Indiferenciada. Diagnosticada em pessoas que mostravam mais de um tipo de sintoma predominante.
Residual. Termo normalmente reservado para pessoas que eram diagnosticadas no início da vida mas não exibiam sintomas com o passar dos anos.
Catatônica. Como o nome sugere, esse subtipo era diagnosticado em pessoas que apresentavam sinais de mudez ou estupor (ausência de reação ao ambiente mesmo em estado de consciência).
Testes e diagnóstico de esquizofrenia
Não existe um único teste para diagnosticar a esquizofrenia. Um exame psiquiátrico completo pode ajudar seu médico a fazer um diagnóstico.
Durante um consulta com um psiquiatra ou outro profissional da saúde mental, espere perguntas sobre:
- Seu histórico médico;
- Sua saúde mental;
- O histórico médico de sua família.
Alguns procedimentos comumente realizados nessa situação incluem:
- Exames físicos;
- Hemograma;
- Exames por imagem, como ressonância magnética ou tomografia computadorizada.
Algumas vezes, os seus sintomas podem ser causados por outros motivos que não a esquizofrenia. Esses motivos incluem:
- Uso de substâncias;
- Algumas medicações;
- Outros transtornos mentais.
Seu médico pode diagnosticar esquizofrenia se você teve pelo menos dois sintomas durante um período de 30 dias. Esses sintomas devem incluir:
- Alucinações;
- Delírios;
- Fala desorganizada.
Tratamentos contra a esquizofrenia
Não existe cura para a esquizofrenia, se você foi diagnosticado(a) com a doença, provavelmente necessitará de tratamento vitalício. O tratamento ajudará a controlar ou reduzir a intensidade dos sintomas.
É importante receber tratamento de um psiquiatra que tenha experiência lidando com esse transtorno. Algumas opções de tratamento incluem:
Medicamentos
Remédios antipsicóticos são a forma mais comum de tratamento contra a esquizofrenia. A medicação pode atenuar:
- Alucinações;
- Delírios;
- Sintomas de psicose.
Se um episódio de psicose surgir, talvez você precise ser hospitalizado e receber tratamento sob atenção médica.
Intervenção psicossocial
Outra opção de tratamento contra a esquizofrenia é a intervenção psicossocial. Isso inclui terapia individual para ajudar você a lidar com o estresse e com sua doença.
Treinamento social também pode ajudar você a melhorar suas habilidades sociais e de comunicação.
Reabilitação vocacional
A reabilitação vocacional pode prover as habilidades necessárias para você voltar ao trabalho. Ela irá ajudar você a manter um trabalho regular com mais facilidade.
Esquizofrenia na infância
Um diagnóstico de esquizofrenia é comum em pessoas na adolescência ou casa dos 20 anos. Existem, porém, casos em que os sintomas se manifestam mais cedo que isso.
Quando os sintomas se manifestam antes dos 13 anos, a condição é conhecida como esquizofrenia infantil.
Diagnosticar esse transtorno é difícil pois mudanças no comportamento são esperadas em crianças e pré-adolescentes. Para complicar mais as coisas, muitos dos sintomas também são comuns em outros transtornos como:
- Depressão;
- Transtorno bipolar;
- Transtornos de atenção.
Os sintomas da esquizofrenia infantil podem incluir;
- Medos e ansiedades incomuns (paranoia);
- Problemas no sono;
- Alterações de humor;
- Ouvir vozes ou ver coisas (alucinações);
- Desatenção com os cuidados pessoais;
- Mudanças repentinas de humor;
- Queda sensível na performance acadêmica.
É importante saber separar os comportamentos comuns de uma criança ou adolescente dos sintomas de um transtorno mental. Para isso, o melhor a se fazer é contar com o auxílio de um profissional da saúde mental.
Esquizofrenia vs psicose
Esquizofrenia e psicose podem ser confundidas entre si, mas não são a mesma coisa. Enquanto a primeira é um transtorno mental, a segunda é um sintoma.
A psicose é um rompimento com a realidade. Durante um episódio de psicose você pode ouvir vozes, ver coisas que não são reais ou acreditar em coisas que não são verdade. Se trata de um elemento ou sintoma que aparece em vários transtornos mentais, entre eles, a esquizofrenia. A psicose também pode se apresentar em pessoas sem quaisquer outros sintomas de transtornos mentais.
Embora a psicose seja um sintoma de esquizofrenia, nem todo esquizofrênico sofre de psicose. Se você tem episódios de psicose, ou conhece alguém que tem, procure atendimento imediatamente.
Estatísticas sobre a esquizofrenia
- O transtorno é mais comum em homens que em mulheres;
- Pesquisas indicam que a esquizofrenia afeta menos de 1% da população. Mais de 20 milhões de pessoas ao redor do mundo têm o diagnóstico da doença;
- A probabilidade de você ter o transtorno sobe para 10% se você tem um parente de primeiro grau que é esquizofrênico;
- Pessoas com esquizofrenia têm uma chance de 2 a 3 vezes maior de morrer prematuramente;
- Quase metade das pessoas com o transtorno sofrem de outros transtornos mentais;
- Quase 5% dos esquizofrênicos morrem por suicídio. Taxa mais alta que a da população geral.
- Mais da metade das pessoas com o transtorno não recebem o cuidado adequado.
Esquizofrenia vs transtorno bipolar
Tanto a esquizofrenia quanto o transtorno bipolar são transtornos mentais crônicos. Eles podem compartilhar algumas características, porém, existem diferenças importantes.
O transtorno bipolar causa intensas mudanças de humor. É comum uma alternância entre episódios maníacos e depressivos.
É possível que, durante esses episódios, uma pessoa bipolar sofra alucinações ou delírios, principalmente durante os episódios maníacos.
Da mesma maneira, pessoas com esquizofrenia também podem sofrer com delírios e alucinações, mas existe uma probabilidade muito grande de também apresentarem fala e pensamentos desorganizados. Diferente do que acontece com um bipolar, não há a manifestação de sintomas de mania.
Nenhum teste pode fazer uma distinção entre essas duas doenças especificamente. A abordagem mais provável de ser adotada pelo seu médico é uma ampla avaliação psiquiátrica junto de outros sintomas que podem ajudar a descartar algumas possibilidades. Entre esses testes pode-se citar exames de sangue, exames de imagem ou testes para detecção de drogas.
De posse destes resultados, seu médico começará a monitorar seu comportamento e seus sintomas para declarar um diagnóstico que se encaixe em seus sintomas.
Prognóstico de esquizofrenia
O prognóstico para pessoas com esquizofrenia varia. Ele depende muito da saúde, idade, sintomas e plano de tratamento do paciente.
Os programas de tratamento que envolvem familiares costumam ter um índice de sucesso maior. Eles reduzem a necessidade de hospitalização e ajudam a pessoa a ser mais funcional.
Levando em conta esses fatos, é fundamental escolher um bom profissional que lhe ajude a encontrar o plano de tratamento que melhor se encaixa com seu perfil.
Prevenção ao suicídio
Se você acredita que alguém está sob risco imediato de ferir a si mesmo ou a outra pessoa:
- Ligue para o 190 e relate a situação;
- Fique com a pessoa até a ajuda chegar;
- Remova armas, facas, remédios ou quaisquer outros meios que a pessoa pode usar na tentativa;
- Ouça. Não julgue, discuta ou grite, apenas ouça;
- Se você ou alguém que você conhece está contemplando o suicídio, ligue para o Centro de Valorização da Vida – disque 188.
Complicações da esquizofrenia
A esquizofrenia é um transtorno sério que não deve ser ignorado ou seguir sem tratamento especializado. A doença traz o risco de complicações sérias, como:
- Automutilação ou suicídio;
- Ansiedade;
- Fobias;
- Depressão;
- Abuso de álcool e outras drogas;
- Problemas familiares.
A esquizofrenia também pode dificultar o desempenho e a convivência na escola ou no trabalho. Caso a pessoa não seja capaz de se sustentar financeiramente ou não receba apoio, há um risco maior de pobreza ou falta de moradia.
Prevenção contra a esquizofrenia
Não existe uma forma específica de prevenir a esquizofrenia. Entretanto, identificar e conter o surgimento da doença em indivíduos com propensão tem sido o foco das pesquisas mais recentes.
Não é impossível desfrutar de uma vida produtiva e livre de sintomas. Os sintomas da doença também podem desaparecer e retornar algum tempo depois. Algumas recomendações básicas para viver melhor depois do diagnóstico incluem:
- Tomar conhecimento da sua condição;
- Entender os fatores de risco;
- Seguir o plano de tratamento do seu médico.