Dezembro Laranja – A importante relação entre câncer de pele e saúde mental
Focado no combate ao câncer de pele, o Dezembro Laranja tem o objetivo de promover a prevenção e o tratamento contra a doença. A saúde mental também desempenha um importante papel nisso, veja como.
16.12.2021 | João Vitor Santos
Por sua gravidade e incidência relativamente alta, o câncer está hoje entre as doenças mais preocupantes que a humanidade enfrenta. E entre os mais de 100 tipos de câncer conhecidos, nenhum acomete mais pessoas que o câncer de pele.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), apenas em 2020, o câncer de pele atingiu mais de 185 mil pessoas.
Comentando sobre a situação, o Dr. Sérgio Palma, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia diz que “os números de incidência do câncer de pele são maiores do que os cânceres de próstata, mama, cólon e reto, pulmão e estômago.”
“Na campanha deste ano, queremos compartilhar conteúdo que seja útil às pessoas, de acordo com as peculiaridades e necessidades de cada uma, para isso contaremos com a participação e o engajamento dos médicos dermatologistas, que também fazem a diferença na hora de passar a informação segura”, ele continua.
Felizmente, o câncer de pele é altamente tratável, se diagnosticado nos seus estágios iniciais.
Entretanto, existe um aspecto muito importante na luta contra o câncer que contribui para a qualidade de vida (ou falta dela) até mesmo muito depois do câncer ter ido embora.
Trata-se da saúde mental. E não somente do paciente, mas de todas as pessoas em volta que também são impactadas pelo diagnóstico.
Câncer de pele e saúde mental
O diagnóstico de câncer, por si só, é um grande choque para qualquer pessoa. Soma-se a isso a alteração de rotina, os rigores do tratamento e as dúvidas a cerca do futuro e é fácil perceber porque a saúde mental é um dos aspectos mais afetados pelo diagnóstico de câncer.
A relação entre câncer e distúrbios mentais é uma bem documentada. Por exemplo:
- Até um terço das pessoas que recebem tratamento contra câncer em hospitais possui algum distúrbio mental;
- Outra pesquisa sugere que, nas pessoas com câncer, a incidência de casos mais graves de depressão é até 3x maior que nas demais pessoas;
Informações referentes à relação entre saúde mental e o câncer de pele, especificamente, não são abundantes. Um estudo, porém, aponta que pessoas com câncer de pele tem um risco 3 vezes maior de desenvolver doenças psicológicas que as demais pessoas”, o que está na mesma linha de outras pesquisas mais extensivas.
O estado mental das pessoas em tratamento contra qualquer doença – e em particular contra o câncer, uma doença bastante grave – é um fator muito relevante pois, além de interferir profundamente na qualidade de vida, também está associado às chances de sobrevivência e velocidade de recuperação.
Nesse sentido, um estudo publicado em 2015 aponta que pacientes que receberam tratamento e apresentaram sintomas reduzidos de depressão possuem uma expectativa de vida superior àqueles onde os sintomas são mais fortes.
Quais os principais desafios psicológicos quando se enfrenta câncer de pele?
Como dito na seção anterior, a batalha mental se inicia já no momento do diagnóstico. Uma das reações mais comuns nesse momento é o medo.
Tomar conhecimento de uma doença séria como esta coloca a pessoa em “águas desconhecidas”. O futuro passa a ser incerto e a reação natural a isso é temer por si próprio e pelo bem-estar das pessoas próximas.
Outras respostas psicológicas que podem suceder o diagnóstico de câncer de pele incluem:
Ansiedade
Este é, na verdade, o distúrbio mais comum nas pessoas com câncer. Fortemente associada ao medo pelo futuro e pela incerteza, a ansiedade pode se estabelecer durante o tratamento contra a doença, mas se não for tratada, pode continuar a ser um problema mesmo depois da remissão.
Depressão
A depressão é particularmente perigosa pois pode afetar o comprometimento do paciente com o tratamento. Além disso, possui um enorme potencial de enfraquecer o sistema imunológico.
A depressão atinge em média 25% das pessoas diagnosticadas com câncer, e as chances de surgimento são maiores nas pessoas que já tiveram depressão antes.
Baixa autoestima
O câncer de pele costuma afetar regiões expostas do corpo. Por conta, disso, os sinais da doença podem ser vistos com mais facilidade pelas outras pessoas. Isso, naturalmente, pode causar problemas de autoestima no paciente.
Além disso, dependendo do tipo de câncer de pele, o tratamento também pode resultar em alterações físicas mais evidentes, o que também contribui para a perda de confiança.
Culpa
Um sentimento comumente reportado entre pacientes de câncer é a culpa.
Muitas pessoas se sentem culpadas por conta de possíveis hábitos nocivos que não tenham corrigido ou por não terem procurado orientação médica mais cedo. Muito comum também é a culpa que as pessoas recuperadas do câncer sentem. A síndrome do sobrevivente, como é chamada, se refere ao sentimento de culpa por ter sobrevivido a algo que causa a morte de tantas outras pessoas.
Medo da recorrência
Outro problema que pode interferir na qualidade de vida de alguém que já venceu o câncer de pele é o medo de que a doença retorne.
Por conta da seriedade da experiência, o medo de que aconteça tudo de novo pode atormentar a pessoa, tornando-a refém do medo até nos dias em que sua saúde está perfeita.
Como cuidar da saúde mental após o diagnóstico de câncer de pele
Um dos fatores mais importantes durante a luta contra o câncer de pele, além do próprio paciente e o tratamento, são as pessoas que ele tem em volta.
Os relacionamentos são uma das bases da vida de qualquer pessoa, e, em momentos de crise como esse, a importância deles só cresce. Dessa forma o apoio das pessoas próximas é extremamente importante para um tratamento bem-sucedido e uma recuperação rápida.
Algumas dicas também contribuem para tornar esse momento mais fácil:
Faça psicoterapia
O psicoterapeuta é um profissional especializado em ajudar a lidar com as situações complicadas da vida e os desafios mentais associados a elas.
Encontrar um bom profissional significa receber orientação adequada para lidar com alguns dos problemas citados anteriormente como: ansiedade, depressão e culpa.
Mesmo após o fim da batalha contra o câncer, a terapia pode ser útil. Muitas das dificuldades psicológicas que surgem durante o tratamento podem persistir após a remissão. Além disso, continuar a vida depois de um período tão intenso pode ser um enorme desafio para algumas pessoas.
Para falar com um psicólogo agora mesmo, clique aqui.
Concentre-se nas coisas positivas da sua vida:
A gratidão é um sentimento extremamente poderoso e benéfico. Por isso, evite concentrar-se em sentimentos negativos como culpa e raiva. Em vez disso, aprecie as pessoas que você tem em volta e a oportunidade de encontrar tratamento, por exemplo.
Toda dificuldade traz consigo uma oportunidade, portanto não deixe de procurar o lado bom de cada situação. Este não é um exercício fácil, mas é profundamente necessário. Uma forma comum e recomendada de fazer isso é escrever um diário. Conversar com alguém próximo também é uma boa dica.
Entre em um grupo de apoio
O câncer de pele é uma doença que já foi enfrentada (e vencida) por milhões de pessoas, receber o apoio de quem está enfrentando ou já superou essa doença pode ser muito útil.
Além da oportunidade de ser compreendido por quem que conhece muito bem a situação, é uma ótima forma de receber apoio e conhecer pessoas novas.
Ter a noção de que você não é o único a enfrentar essa situação pode ser um grande alívio e uma grande fonte de inspiração para continua na luta contra a doença.
Quem apoia também merece apoio
Quando uma pessoa é diagnosticada com câncer, quase toda a atenção se dirige a ela. Dessa forma, as pessoas mais próximas se dedicam a oferecer todo o apoio possível e necessário ao doente. Mas isso não significa que apenas o paciente sofra.
Muitas vezes, os efeitos psicológicos que o paciente enfrenta também acometem seu círculo pessoal mais íntimo. Sentimentos como culpa, ansiedade e medo podem surgir em quem se dedica a cuidar da pessoa querida.
Por isso, é necessário que os cuidadores não se esqueçam da própria saúde. Nesse sentido, algumas das mesmas dicas de cuidado mental dadas aos pacientes com câncer se aplicam.
Se você está cuidando de alguém ou conhece alguém que o faça, lembre-se dessas dicas:
- Busque orientação com um profissional da saúde mental;
- Grupos de apoio para pessoas na sua situação existem, você pode encontrar suporte neles;
- Não deixe de fazer pelo menos algumas das suas atividades preferidas;
- Busque ter uma mentalidade positiva, principalmente quando estiver lidando com a pessoa sendo tratada.
Lembre-se de respeitar seus limites e se permita receber ajuda também. Afinal, sozinhos nós (quase) nada podemos fazer.