Psicologia Infantil

Transtorno de interação social desinibida – O que você precisa saber

Conheça os sintomas, causas e tratamentos para esse transtorno infantil.

Transtorno de Interação Social Desinibida – O que Você Precisa Saber

A maioria das crianças são cautelosas com adultos que elas não conhecem. Na maioria das vezes, o medo de pessoas estranhas é útil e saudável. Entretanto, algumas crianças não têm esse medo.

Crianças com transtorno de interação social desinibida não têm medo de estranhos. Na verdade, elas ficam tão à vontade com pessoas novas que não hesitam em entrar no carro ou subir no colo de um desconhecido. Essa simpatia excessiva com pessoas que elas não conhecem pode se tornar um risco seríssimo de segurança caso o problema não seja tratado.

Sinais da interação social desinibida

Para atender os critérios diagnósticos do transtorno de interação social desinibida, a criança deve exibir um padrão de comportamento que inclui abordar e interagir com adultos desconhecidos além de, pelo menos, dois dos comportamentos a seguir:

  • Comportamento amigável demais, ao ponto de não ser compatível com o que é socialmente apropriado;
  • Pouca ou nenhuma cautela em abordar e interagir com adultos desconhecidos;
  • Pouco ou nenhum interesse em retornar para o adulto responsável depois de passar um tempo longe, mesmo em ambientes desconhecidos;
  • Disposição de acompanhar um adulto desconhecido com pouca ou nenhuma cautela.

É preciso ressaltar que a criança só poderá ser diagnosticada com o transtorno de interação social desinibida se os comportamentos não forem induzidos por problemas no controle de impulsos, uma característica comum de outros transtornos.

Por exemplo, uma criança com transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) pode correr para longe em um parque e se esquecer de verificar se os pais estão acompanhando. Uma criança com transtorno de interação social desinibida, por outro lado, vai se afastar sem verificar os pais porque não acha que estar longe deles é um problema.

Além dos critérios comportamentais mencionados acima, a criança precisa ter um histórico de negligência, conforme os seguintes critérios:

  • Negligência social, incluindo a ausência das necessidades emocionais por conforto, estímulo e afeto que são oferecidos pelos adultos responsáveis;
  • Constantes trocas de responsáveis primários, de forma que a criança não teve oportunidade de se apegar como deveria;
  • Criação em ambientes pouco convencionais, como orfanatos, de forma que a criança não pôde formar laços adequadamente devido a presença de muitas crianças para poucos adultos responsáveis.

Se a criança apresenta os sintomas por mais de 12 meses, o transtorno é considerado persistente. O transtorno é descrito como severo quando a criança exibe os sintomas em intensidades elevadas.

O transtorno de interação social desinibida é induzido pela negligência e, portanto, pode ser acompanhado de outras condições, como desnutrição e retardos cognitivos ou de linguagem.

Ausência de preferência pelos adultos responsáveis

A maioria das crianças mantém a proximidade com seus cuidadores primários, principalmente quando precisam de conforto. Por exemplo, uma criança que cai de um balanço e esfola o joelho irá procurar o adulto que a levou para brincar para ser consolada e ter o ferimento tratado.

Se uma criança com transtorno de interação social desinibida cair no parque, ela pode procurar um completo estranho para obter apoio. Ela pode dizer a um adulto aleatório que está ferida ou até mesmo sentar no colo de alguém em um banco do parque e chorar.

O comportamento desinibido da criança pode ser confuso e assustador para os cuidadores. Os adultos envolvidos podem achar difícil de entender porque uma criança interage com adultos desconhecidos sem um momento de hesitação.

Dificuldade em saber quem é confiável

Crianças pequenas não são boas em identificar predadores, mas a maioria é cautelosa com pessoas que não conhecem. A maior parte das crianças é capaz de julgar se um estranho parece gentil ou ameaçador com base no rosto de um indivíduo. Uma pesquisa descobriu que as crianças fazem avaliações iniciais sobre a confiabilidade de um indivíduo com base na aparência dessa pessoa.

Para uma criança com interação social desinibida, as dificuldades com o reconhecimento facial podem contribuir para sua vontade de conversar e se envolver com estranhos.

Estudos mostram que crianças com o transtorno não podem distinguir entre uma pessoa que parece gentil e segura e alguém que parece assustador e suspeito.

Carência de atenção

Crianças com transtorno de interação social desinibida anseiam pela atenção alheia. Como não podem identificar quais pessoas são confiáveis, essas crianças podem demonstrar afeto por qualquer um que lhes dê atenção – incluindo alguém que não seja conhecido.

Não é incomum que uma criança com o transtorno abrace um estranho no supermercado ou inicie uma conversa altamente pessoal com um adulto desconhecido no parquinho. Elas podem até se sentar com outra família no parque como se tivessem sido convidados para o piquenique.

Uma criança com transtorno de interação social desinibida busca afeto físico indiscriminadamente. Por exemplo, ela pode sentar no colo de um estranho em uma sala de espera.

Mudanças ao longo do tempo

Os comportamentos provocados pelo transtorno de interação social desinibida podem mudar e evoluir à medida que a criança cresce. Durante os anos de pré-escola, crianças com interação social desinibida começarão a buscar atenção ativamente, fazendo barulhos altos no parque para que adultos desconhecidos olhem para elas, por exemplo.

Na segunda infância, as crianças muitas vezes mostram familiaridade excessiva bem como expressão dissimulada de emoções. Um pré-adolescente pode rir quando os outros riem ou parecerem tristes para manipular uma situação.

Entre os pares, eles podem agir de maneira excessivamente íntima. Por exemplo, eles podem dizer: “quero ir na sua casa” ao conhecer um novo colega de classe pela primeira vez.

Adolescentes com transtorno de interação social desinibida são propensos a ter problemas com colegas, pais e professores. Eles tendem a desenvolver relacionamentos superficiais com os outros, se envolverem em conflitos e continuarem a demonstrar comportamento desinibido em relação aos adultos.

Os pesquisadores estão estudando as consequencias a longo prazo para crianças com transtorno de interação social desinibida, particularmente se seus efeitos se estendem até a idade adulta.

Causas da interação social desinibida

O transtorno de interação social desinibida é causado pela negligência durante a infância. Mas geralmente existem mal-entendidos sobre o que constitui negligência e sobre o que contribui para o desenvolvimento de distúrbios desse tipo em crianças.

A negligência durante a infância interfere no vínculo e no apego. Isso prejudica a capacidade da criança de desenvolver relacionamentos de confiança com os cuidadores e muitas vezes persiste na vida adulta.

Os bebês aprendem a confiar em seus cuidadores quando esses respondem consistentemente às suas necessidades. Por exemplo, um bebê que é alimentado em resposta a seus choros famintos aprenderá que pode contar com os seus pais para receber alimento.

Ao contrário dos mitos comuns, colocar a criança em uma creche não provoca o distúrbio, colocá-la no berço quando estiver chorando também não. As crianças que são negligenciadas podem não se relacionar com seus cuidadores. Se um bebê chorando é constantemente ignorado, eles assimilam que as pessoas ao seu redor não são confiáveis.

Um bebê que é deixado sozinho na maior parte do tempo com pouco envolvimento social pode não formar nenhum tipo de relacionamento com um responsável. Consequentemente, essa criança pode estar em risco de um transtorno de apego.

Embora as consequências possam ser graves, é importante saber que nem todas as crianças negligenciadas desenvolvem transtorno de interação social desinibida. Na verdade, muitas crianças crescerão para terem relacionamentos saudáveis ​​sem problemas de apego duradouros.

Prevalência do transtorno de interação social desinibida

Acredita-se que essa condição seja relativamente rara. Crianças que foram criadas em institutos, como orfanatos ou institutos adotivos, têm uma chance maior de desenvolver a condição.

Muitas crianças com histórico de abuso ou negligência não desenvolvem transtornos de apego, mas estudos sugerem que cerca de 20% das crianças em grupos de alto risco desenvolvem o transtorno de interação social desinibida.

Riscos e consequências da interação social desinibida

É importante que crianças tenham uma dose saudável de medo de estranhos e pessoas potencialmente perigosas. Criar uma criança com transtorno de interação social desinibida pode ser bastante confuso e assustador para os responsáveis.

Uma criança de cinco anos com o transtorno pode passear com um estranho no shopping ou uma criança de dez anos pode entrar desacompanhada na casa de um vizinho sem pensar duas vezes sobre a segurança ou as possíveis consequências dessas ações.

Os responsáveis que criam uma criança com essa condição devem manter vigilância constante para garantir que a criança não entre em uma situação perigosa. Talvez seja necessário intervir com frequência para impedir que a criança interaja com estranhos.

Crianças com transtornos de apego lutam para desenvolver relacionamentos saudáveis com professores, responsáveis e colegas. Seu comportamento pode ser alarmante o suficiente para que pessoas ao seu redor, como a família de um colega de classe, evitem interações sociais – principalmente se não conhecerem o transtorno.

Tratamento para a interação social desinibida

É importante que as crianças com distúrbios de apego recebam cuidado constante de cuidadores estáveis. Uma criança que continua a se mudar de um lar adotivo para outro ou uma que continua em um instituto tem menos chances de melhorar.

Uma vez estabelecido o cuidado consistente, o tratamento pode começar a fortalecer o vínculo entre a criança e um responsável principal.

Os distúrbios de apego não tendem a melhorar por conta própria. O tratamento profissional geralmente consiste em terapia com a criança e os responsáveis; os planos de tratamento são individualizados para atender às necessidades e sintomas exclusivos de cada criança.

Se você está preocupado que uma criança sob seus cuidados possa ter um distúrbio de apego, converse com seu pediatra. Ele pode encaminhar seu filho a um profissional de saúde mental para uma avaliação abrangente.

João Vitor Gomes dos Santos
João Vitor Gomes dos Santos

Engenheiro Mecânico, através da convivência na universidade se conscientizou da importância do bem-estar mental. Para promover e acessibilizar os cuidados com a mente, cofundou a PsyMeet. Convencido da importância da saúde mental para uma vida feliz, está sempre lendo, assistindo e ouvindo sobre o tema. Instagram @dosantosjv

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