O que é o transtorno do apego reativo
Conheça os sintomas e as opções de tratamento desse transtorno infantil.
04.12.2021 | João Vitor Santos
O que é transtorno do apego reativo?
Transtorno do apego reativo é uma condição encontrada em crianças que podem ter sofrido negligência e maus tratos ou que não formaram laços emocionais saudáveis com seus cuidadores – geralmente as mães - até os 5 anos.
O apego se desenvolve quando a criança é acalmada, confortada, bem cuidada e quando o cuidador atende as necessidades da criança consistentemente. É através do apego com um cuidador amoroso e protetor que a criança aprende a amar e confiar nos outros, a considerar os sentimentos e necessidades dos outros, a regular suas emoções, a desenvolver uma autoimagem positiva e a desenvolver relacionamentos saudáveis.
A ausência de calor emocional durante os primeiros anos de vida pode afetar negativamente o futuro de uma criança.
Sintomas do transtorno do apego reativo
O transtorno do apego reativo pode afetar todos os aspectos da vida e do desenvolvimento da criança. Quando bebês e crianças pequenas têm transtorno do apego reativo elas podem:
- Não responder a terceiros com a variedade de emoções esperada;
- Não expressar emoções de consciência, como remorso, culpa ou arrependimento;
- Não fazer contato ocular;
- Evitar contato físico, especialmente dos cuidadores;
- Ter surtos de raiva ou ser mais irritável, desobediente, ou propensa a discutir do que o esperado para alguém de sua idade e situação;
- Ser infeliz sem um motivo claro.
Conforme a criança envelhece, o transtorno do apego reativo tende a assumir dois padrões: inibido e desinibido.
Sintomas comuns do transtorno de apego inibido incluem:
- Desapego;
- Pouca responsividade ou resistência ao conforto oferecido pelos cuidadores;
- Inibição excessiva (conter as emoções);
- Afastamento ou uma mistura de aproximação e evasão;
- Falha em procurar afeto dos cuidadores e outras pessoas;
- Tendência de não compartilhar o que sentem.
Sintomas comuns do transtorno do apego desinibido incluem:
- Sociabilidade indiscriminada;
- Familiaridade inapropriada ou pouca seletividade a respeito das pessoas com quem criam laços;
- Nenhuma preferência pelos seus cuidadores em relação a terceiros;
- Tendência de agir de maneira imatura para sua idade e de buscar afeto de maneiras potencialmente perigosas.
Causas e fatores de risco do transtorno do apego reativo
O transtorno do apego reativo se desenvolve quando o laço entre a criança e seus cuidadores não acontece ou é interrompido por maus tratos ou negligência. Isso pode acontecer por vários motivos, inclusive:
- Constante desconsideração pelas necessidades emocionais de conforto, estímulo e afeto da criança;
- Constante desconsideração pelas necessidades físicas básicas da criança;
- Constantes mudanças de cuidadores primários, o que impede a criança de formar laços estáveis.
Outros fatores de risco para o transtorno do apego reativo incluem essas situações caseiras ou parentais:
- Morar em uma instituição de abrigo para crianças;
- Pais com transtornos mentais sérios ou com problemas de abuso de álcool ou drogas;
- Pais com comportamento criminoso;
- Pais ou cuidadores que são hospitalizados ou separados da criança por períodos estendidos de tempo.
O quão comum é o transtorno do apego reativo?
É difícil saber exatamente quantas crianças têm transtorno do apego reativo, já que muitas famílias não procuram ajuda. Entretanto, acredita-se que esse seja um transtorno relativamente incomum.
Diagnóstico do transtorno do apego reativo
Assim como nos adultos, transtornos mentais em crianças são diagnosticados de acordo com sinais e sintomas que sugerem uma condição particular.
Se uma criança apresenta sintomas, o médico pode fazer um histórico médico completo e um exame físico – incluindo uma avaliação sobre os marcos no desenvolvimento da criança.
Não existem testes de laboratório para diagnosticar o transtorno do apego reativo, mas o médico pode usar vários testes para confirmar o que pode estar causando os sintomas. Os testes podem incluir neuroimagem ou exames de sangue, de forma a avaliar se uma doença física ou consumo de medicamentos podem estar causando os sintomas.
Se o médico não puder encontrar uma causa física para os sintomas, ele provavelmente encaminhará a criança para um psiquiatra ou psicólogo que trabalhe com crianças e adolescentes. Esses profissionais da saúde mental são treinados especificamente para tratar de transtornos mentais em crianças e adolescentes. Eles farão uma avaliação da criança para descartar outras causas para o comportamento estranho, como transtorno do espectro autista.
Psiquiatras e psicólogos usam ferramentas de avaliação especificamente desenvolvidas para identificar transtornos mentais em crianças. Para falar com um psicólogo que trabalha com crianças, clique aqui.
Tratamento do transtorno do apego reativo
O tratamento contra o transtorno do apego reativo tem duas metas principais. A primeira é garantir que a criança esteja em um ambiente seguro. Isso é especialmente importante em casos onde a criança sofreu abuso ou negligência. A segunda meta é ajudar a criança a desenvolver um relacionamento saudável com um cuidador apropriado.
Esse tratamento geralmente se concentra no cuidador. O aconselhamento oferecido pode ajudar a abordar problemas que estão afetando o relacionamento e comportamento do cuidador com a criança. Ensinar técnicas de cuidados parentais também pode ajudar a melhorar o relacionamento e a desenvolver o apego.
O tratamento também pode incluir ludoterapia. Essa técnica permite que a criança e o cuidador expressem seus pensamentos, medos e necessidades no contexto seguro de uma brincadeira.
Não existe medicação para tratar o transtorno do apego reativo especificamente. Entretanto, o médico pode receitar medicamentos para controlar sintomas comportamentais severos, como raiva explosiva ou problemas de sono.
Prevenção ao transtorno do apego reativo
Reconhecer um problema com o apego e procurar ajuda o quanto antes é essencial para prevenir o transtorno do apego reativo.
Nem sempre é possível evitar esse transtorno, mas os itens a seguir podem desacelerar sua progressão:
- Se envolver frequentemente com sua criança através de brincadeiras e conversas frequentes, contato visual e sorrisos;
- Entender a interpretar as pistas que o bebê dá. Por exemplo, o que os diferentes tipos de choro dizem sobre como ele está se sentindo e do que precisa;
- Responder a sua criança com um tom de voz gentil e com expressões faciais e toques físicos receptivos;
- Assistir aulas ou fazer voluntariado com sua criança para que você desenvolva habilidades para a estimular.
Prognóstico para o transtorno do apego reativo
Se não tratada, essa condição pode ter um impacto negativo no desenvolvimento físico, emocional, comportamental, social e moral da criança. Crianças com transtorno de apego reativo têm um risco maior de:
- Depressão;
- Comportamento agressivo ou disruptivo;
- Dificuldade de aprendizado e problemas de comportamento na escola;
- Incapacidade de formar relacionamentos significativos;
- Baixa autoestima;
- Transtornos de alimentação;
- Dependência ou abuso de álcool ou drogas no futuro;
Com tratamento, é possível que crianças com transtorno do apego reativo aprendam a confiar nos outros e a levarem vidas saudáveis e produtivas.