Desregulação emocional – tudo o que você precisa saber
Saiba o que é, quais são os sintomas, causas e possíveis tratamentos para a desregulação emocional.
23.11.2021 | João Vitor Santos
O que é desregulação emocional?
Desregulação emocional se refere à pouca habilidade de controlar as respostas emocionais ou de mantê-las no espectro de reações emocionais razoáveis. Isso se aplica a uma grande variedade de emoções, como raiva, tristeza e frustração.
Apesar da desregulação emocional ser vista como um problema tipicamente infantil que vai embora com o tempo, ela pode persistir até a vida adulta.
Para pessoas assim, a desregulação emocional pode levar a dificuldades que duram a vida toda em áreas como relacionamentos e performance na escola ou no trabalho.
Causas
Agora que você sabe um pouco mais sobre o que significa viver com desregulação emocional, você pode se perguntar o que exatamente causa esse problema. Por que algumas pessoas não têm dificuldade em permanecerem calmas e compostas enquanto outras desmoronam ao primeiro sinal de algo dando errado?
As causas são várias. Existe uma, entretanto, que aparece consistentemente na literatura sobre o tema. Estamos falando de trauma psicológico na infância causado por abuso ou negligência de um dos responsáveis. Isso resulta em algo conhecido como transtorno do apego reativo.
Além disso, um dos pais que tenha desregulação emocional também terá dificuldades em ensinar controle emocional para a criança. Como crianças não nascem com a habilidade de controlar as emoções, ter um dos pais que não é capaz de oferecer um exemplo efetivo disso coloca a criança sob o risco de também ter a emoções desreguladas.
Transtornos associados à desregulação emocional
Sabe-se que a desregulação emocional persistente na infância pode ser um indicador para transtornos mentais no futuro; também sabe-se que alguns transtornos têm uma chance maior de envolver a desregulação emocional.
Entre esses transtornos pode-se citar:
- Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH);
- Transtornos do Espectro Autista (TEA);
- Transtorno bipolar;
- Transtorno de personalidade borderline;
- Transtorno de Estresse Pós-Traumático complexo (TEPT complexo);
- Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor;
- Síndrome do alcoolismo fetal.
Quando a desregulação emocional aparece como parte de um transtorno mental diagnosticado, ela geralmente envolve uma sensibilidade maior a estímulos emocionais, além de uma habilidade menor de voltar a um estado emocional normal após um período razoável de tempo.
Sintomas
Em geral, desregulação emocional envolve emoções que são intensas demais em relação ao estímulo que as provocou. Isso pode significar que a pessoa não é capaz de se acalmar, que ela evita emoções difíceis ou que só presta atenção no que é negativo.
Boa parte das pessoas com desregulação emocional também agem impulsivamente quando suas emoções estão fora de controle (geralmente tristeza, medo ou raiva). Os exemplos abaixo mostram como é uma manifestação da desregulação emocional.
- Seu parceiro romântico cancela os planos para um compromisso com você. Você então assume que a pessoa não te ama mais e passa a noite toda chorando ou comendo besteira;
- O atendente de banco diz que você não pode concluir uma transação e precisa retornar no dia seguinte. Você tem um surto de raiva, grita com a pessoa e arremessa a caneta nela;
- Você vai em um jantar da firma. Todos parecem estar se divertindo, mas você se sente um peixe fora d’água. Quando chega em casa, você come demais para diminuir a dor emocional.
A desregulação emocional também pode causar dificuldades em reconhecer as emoções que você está sentindo quando fica contrariado(a). Isso pode significar que suas emoções deixam você confuso(a), culpado(a) ou sobrecarregado(a) ao ponto de não conseguir tomar decisões ou controlar seu comportamento.
Perceba que os comportamentos da desregulação emocional podem se manifestar de maneira diferente em crianças. Incluindo birra, surtos de raiva, choro ou recusa em fazer contato visual ou em falar.
Consequências
Ser incapaz de gerenciar suas emoções e o efeito delas no seu comportamento pode gerar uma variedade de efeitos negativos na sua vida adulta. Por exemplo:
- Você pode ter dificuldade para dormir;
- Você tem dificuldade em deixar certos momentos passarem ou guardar mágoas mais do que deveria;
- Você pode se envolver em pequenas discussões que você extrapola de proporção ao ponto de colocar relacionamentos em risco;
- Você pode sofrer efeitos negativos no seu funcionamento na escola, trabalho ou na vida pessoal;
- Você pode desenvolver um transtorno de saúde mental mais tarde na vida devido a dificuldade de controlar as emoções;
- Pelo mesmo motivo, você pode desenvolver algum tipo de dependência química;
- Você pode machucar a si mesmo(a) ou começar a comer demais ou de menos;
- Você pode ter dificuldade em resolver conflitos.
Uma criança com desregulação emocional pode sofrer as seguintes consequências:
- Tendência de ser desobediente e desafiadora;
- Ter dificuldade em aceitar comandos dos pais ou professores;
- Problemas em fazer e manter amizades;
- Capacidade menor de se concentrar em atividades.
Tratamentos
As duas principais opções de tratamento contra a desregulação emocional são psicoterapia e uso de medicamentos. A aplicação de cada um depende da situação do paciente.
Medicação
Os medicamentos podem ser usados para tratar a desregulação emocional quando ela é parte de um transtorno maior. Por exemplo, o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) será tratado com estimulantes; a depressão, com antidepressivos; outros transtornos podem exigir o uso de antipsicóticos.
Psicoterapia
Em termos de terapia contra a desregulação emocional, um dos principais métodos de tratamento é a Terapia Comportamental Dialética (TCD).
Em geral, essa abordagem trabalha com o Mindfulness, validação de emoções e a escolha de hábitos saudáveis. Além disso, também lida com as habilidades necessárias para controlar as emoções.
Através da terapia, você aprende a focar no presente, como perceber melhor seus pensamentos, sentimentos e comportamentos, além de lidar melhor com situações estressantes.
Segundo a TCD, existem três “estados de mente”:
Mente razoável – A pessoa age de maneira lógica e racional.
Mente emocional – As emoções e sensações interferem mais no comportamento.
Mente sábia – Se refere à combinação da mente razoável e da mente emocional.
A ideia da TCD é mostrar que as situações não são preto no branco, ou seja, há sempre uma mistura da mente razoável com a emocional.
Se você acabou de passar por uma situação ou crise estressante, praticar um pouco de TCD em casa pode ser uma boa ideia. Pegue um diário e responda as seguintes perguntas:
- Que evento causou aflição em você?
- O que você pensou sobre a situação? Inclua três pensamentos principais.
- Qual foi a consequência dos pensamentos que você teve?
A meta da TCD é equilibrar suas emoções através de lógica para obter mais resultados positivos das situações que você acha estressantes. Outro objetivo é ensinar você a perceber a conexão entre seus pensamentos, sentimentos e ações. Assim, espera-se que você esteja melhor equipado(a) para lidar com as emoções no dia a dia.
Criando uma criança tendo desregulação emocional
Se você é um dos pais de uma criança e tem desregulação emocional, você pode estar se perguntando o que pode fazer para ajudar a criança. Afinal, é verdade que crianças aprendem as habilidades de regulação emocional com os pais.
Sua criança também precisa saber que ela pode contar com você para receber ajuda e conforto quando necessário. Ter pais confiáveis e solidários vai ajudá-la a se proteger de problemas como a desregulação emocional.
A primeira coisa que você deve fazer é reconhecer suas próprias limitações. Você tem um transtorno de saúde mental ou dificuldades em regular suas emoções? Se sim, tanto você quanto a criança podem se beneficiar quando você recebe tratamento para melhorar sua resiliência. Quando for capaz de lidar com as próprias aflições, você também será capaz de dar mais apoio a sua criança.
Além disso, a melhor maneira de ensinar sua criança a controlar as emoções dela não é exigindo que ela se comporte de certa maneira ou punindo-a quando não o faz. A melhor opção é oferecer um modelo que ela possa replicar.
Pode ser útil observar com mais cuidado quais são os gatilhos para um surto emocional na criança e desenvolver um plano de contenção para lidar com um crise emocional. Previsibilidade e consistência fazem bem a crianças com desregulação emocional. Sua criança precisa saber que pode contar com você, e que você estará lá quando ela precisar do seu consolo e proteção.
Se a criança já está na escola, é importante que você fale com os professores sobre as dificuldades de regulação emocional dela. Fale sobre as estratégias que você usa em casa e explique que a criança pode precisar de ajuda extra na sala ou de lembretes para se acalmar.
Finalmente, lembre-se da importância de recompensar o bom comportamento. Se você observar que seu filho ou filha está agindo de maneira positiva para o controle emocional, elogie esse comportamento. Encontre maneiras de recompensar os sucessos dela, isso incentivará comportamentos desse tipo no futuro.
Conclusão
Seja você, seu filho/filha ou alguém que você conhece que tem dificuldades em controlar as emoções, é importante que você saiba que se trata de algo que pode melhorar com o tempo.
Na verdade, 88% das pessoas diagnosticadas com transtorno de personalidade borderline não mais atendem os critérios para o diagnóstico da doença em 10 anos . Isso mostra que as estratégias de controle emocional podem fazer muita diferença ao melhorar seus sintomas e aumentar sua qualidade de vida.
Independente de como você está agora, você pode fazer mudanças que irão resultar em melhor funcionamento na vida pessoal, no trabalho e na escola. Você pode aprender a lidar com as situações estressantes que te causam dor e trabalhar sobre mágoas e ressentimentos que levaram você até aqui.